Ao meditar sobre esta exposição penso
que é necessário fazer uma distinção entre a arte africana tradicional e a arte
africana contemporânea. A ideia de que a arte no continente africano é estática
foge à realidade. A tradicional arte africana foi uma nomeação dada pelo
colonizador, que está mais relacionada à vida cotidiana, porém não destituída
de sentido estético. Vista como curiosidade, exótica e recheada de relatos de
viajantes, que não compreendiam o que viam, foi sendo criada uma ideia de África
distanciada da realidade.
No Brasil a arte contemporânea tem
caminhado exuberante e, em relação ao continente irmão, a Lei nº 10.639, de 2003 estabelece a
obrigatoriedade da inclusão da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no
currículo oficial da rede de ensino. Considerando todos esses fatores os
artistas do Coletivo Colarta, Cristina Bastos, Francisco Edilberto, Irineu
Ribeiro, Izabel Vidal, Kyria Oliveira e Penithencia, resolveram realizar esta
exposição denominada RASTROS, com o
intuito de realçar aspectos da influência da cultura africana na cultura
brasileira, em particular na capixaba.
Nesse sentido foram convidados os
artistas africanos Carmen Muianga, Maimuna Adam e Nu Barreto, que despontam
naquele continente e na Europa, para participar dessa exposição conjunta e
fazer uma residência artística com o
Coletivo Colarta, de modo a promover um dialogo entre as duas culturas.
As obras de capixabas e africanos
expostas se comunicam entre si na temática e na visão crítica, através de diversas
linguagens artísticas, utilizando vários materiais apresentados em gravuras,
instalações, objetos, fotografias e videoinstalação. Elas trazem as poéticas dos
expositores, algumas lembrando escritores, historiadores e artistas famosos
como Eric hobsbawm, Joseph Beuys, Joseph Ki-Zerbo e Paul Auster, além da
princesa africana Zacimba Gaba, escravizada e violentada no Brasil. Todos os
artistas tiram de suas entranhas lembranças do passado e do presente,
traduzindo em suas obras os mais diversos pontos de reflexão sobre os rastros
que unem África e Brasil, no povo capixaba.
Isa Bandeira
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